Por Ana Luísa Santos*, g1 DF


Curso de arduino promovido pelo projeto Meninas.comp, da UnB, em 2018 — Foto: Arquivo Pessoal

Esta sexta-feira (11) marca o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, com o objetivo de promover a inclusão e manutenção de mulheres e meninas nesses estudos.

Mesmo com avanços nos últimos anos, elas ainda são minoria em áreas exatas e de tecnologia. Diante desse cenário, o g1 conversou com alunas e professoras de dois projetos da Universidade de Brasília (UnB) que incentivam mulheres cientistas.

As iniciativas são focadas na importância de promover a inclusão das mulheres e das meninas nessas áreas, e do ensino de tecnologia desde a educação básica.

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Stand do Menina.comp em feira de tecnologia realizada em Brasília, em 2018 — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), as mulheres correspondem a 51,6% dos estudantes matriculados nos cursos de pós-graduação, no Distrito Federal.

No entanto, nas áreas das ciências exatas, engenharias e computação, os homens ainda são maioria. De acordo com a Capes, dos 329 alunos bolsistas nessas áreas, no DF, 202 são homens, o que representa 61,39%.

O Projeto Meninas.comp surgiu, em 2010, a partir da iniciativa de três professoras do departamento de ciências da computação da UnB: Aletéia Favacho, Maristela de Holanda e Maria Emília. As educadoras perceberam, à época, que a quantidade de mulheres que ingressavam no curso era muito baixa, e as que continuavam na graduação eram poucas.

Diante dessa situação, e querendo mudá-la, as professoras decidiram começar um projeto para incentivar que mais mulheres sigam na computação, ou que, pelo menos, "saibam que a área também é para elas", explicam as pesquisadoras.

"Nós começamos a promover oficinas em escolas do ensino médio e, depois de quatro anos, passamos também a atender escolas de ensino fundamental, porque percebemos que as meninas no ensino médio já vinham moldadas a não se enxergarem na área da computação", diz Aletéia Favacho.

Atualmente, o projeto atende 20 escolas da rede pública do DF e Entorno, e conta com cerca de 20 alunas universitárias voluntárias, que são responsáveis pelo funcionamento e divulgação do programa. Para receber o apoio do projeto, as escolas têm que criar uma turma exclusiva para meninas.

"Muitas dessas meninas com quem a gente trabalha na escola pública não têm noção do que é a atuação de um profissional da área [de computação]. Então, quando a gente vai para a sala de aula e mostra o que é, isso abre um leque de oportunidades", diz Aletéia Favacho.

'O projeto me fez ficar no curso'

Curso de arduino promovido em escolas públicas do DF pelo Meninas.comp — Foto: Meninas.comp/Divulgação

A estudante do 6º semestre de engenharia da computação da UnB e voluntária do Meninas.comp Thamires de Pontes, de 26 anos, diz que o projeto foi essencial para que ela decidisse continuar no curso. Thamires conheceu o programa em uma aula da graduação, ministrada pela professora Aletéia.

"Havia muitas pressões externas para eu não fazer o curso. Então, estava muito desmotivada para continuar a graduação, e todo dia pensava em desistir. O projeto me acolheu e me fez enxergar que era realmente a minha área", diz Thamires.

A iniciativa também oferece treinamento para professores de escolas públicas e distribui kits de arduíno, que possibilitam as aulas práticas para as estudantes. Uma das alunas que se sentiu incentivada pelo Meninas.comp é Bianca Patrocínio, de 17 anos, que terminou o ensino médio no ano passado e tenta uma vaga na UnB para o curso de engenharia de software.

"Antes do projeto, eu nunca tinha imaginado programar, mexer nessa área. Era algo muito fora da minha realidade", conta.

"Por meio do projeto, como eu tive contato com outras universitárias que hoje estão cursando algo na área de tecnologia, minha visão se abriu totalmente", diz Bianca.

Meninas Velozes

Integrantes do projeto Meninas Velozes na Semana Universitária realizada pela UnB, em 2018 — Foto: Meninas Velozes/Divulgação

Outra iniciativa que incentiva o ingresso de meninas e mulheres na área das engenharias e ciências exatas é o projeto Meninas Velozes, da Faculdade de Tecnologia (FT) da UnB.

Fundado em 2013, ele tem como objetivo incentivar, desde a educação básica, o interesse das meninas nesses setores por meio de oficinas práticas nas escolas públicas de ensino médio e fundamental.

Uma das coordenadoras, Dianne Viana, professora e pesquisadora do departamento de engenharia mecânica da UnB, diz que o programa é multidisciplinar e que atua em três escolas públicas, fazendo o acompanhamento de meninas durante o ano todo. O projeto também promove palestras para a comunidade escolar.

"O nosso objetivo é desmistificar que as áreas de ciências exatas e engenharias não são para meninas. Elas podem escolher qualquer área, não existe uma mais indicada para uma menina ou para um menino", diz Dianne.

Uma das monitoras do Meninas Velozes, a aluna do 6º semestre do curso de engenharia mecânica da UnB, Eduarda Cavalcante, de 23 anos, conta que é necessário que mais mulheres ingressem na área. para ela, o projeto é uma forma de viabilizar essa entrada.

"A gente quer que elas acreditem que podem fazer engenharia. Não é uma coisa que elas não possam porque são mulheres. Elas podem, elas têm capacidade. Então, a gente tenta incentivar isso", diz a estudante.

Cinedebate promovido pelo Meninas Velozes durante a pandemia — Foto: Arquivo Pessoal

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*Sob a supervisão de Maria Helena Martinho

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