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China confina cidade de 3,6 milhões de pessoas após surto local de Covid

Jogos de Inverno e Ano-Novo Lunar preocupam autoridades; Hong Kong também vê explosão de casos

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Pequim | Reuters

A China voltou a confinar uma cidade após identificar um surto local de coronavírus. Desta vez, Baise, na fronteira com o Vietnã, enfrentará restrições mais duras na tentativa de atender à estratégia de Covid zero adotada no país. Cerca de 3,6 milhões de pessoas serão afetadas pela medida anunciada nesta segunda-feira (7).

A decisão foi tomada após a cidade relatar uma infecção por coronavírus no sábado (5), em um morador que havia retornado recentemente à região. Autoridades determinaram, então, uma força-tarefa de testagem em massa em mais de 207 mil residentes do condado de Debao, onde mora o paciente infectado. Até esta segunda, 99 casos da Covid-19 haviam sido confirmados.

Policial conversa com morador na cidade de Liuzhou, perto de Baise, na região de Guangxi - Tan Kexing - 17.jan.2022/Xinhua

O confinamento da cidade exige que os moradores permaneçam em casa e evitem viagens desnecessárias. O governo local suspendeu o funcionamento de negócios não essenciais, o transporte público e a ida presencial às escolas. Trabalhadores de áreas essenciais, como o setor de saúde, precisarão de passes especiais para transitar.

O surto, pequeno se comparado aos padrões ocidentais da pandemia, ameaça a estratégia de eliminar a presença do coronavírus adotada pelo regime liderado por Xi Jinping, em vez de conviver com o vírus em níveis mais baixos de disseminação. Mas a preocupação local também cresce em razão de outros dois fatores: a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, e a celebração do Ano-Novo chinês.

A competição esportiva, que teve início na sexta (4), vai até 20 de fevereiro, e dezenas de envolvidos nos jogos tiveram Covid, ainda que as infecções não tenham afetado o evento. O comitê organizador informou que 24 novos casos foram registrados entre trabalhadores da competição neste domingo (6), além de 13 infecções entre aqueles no chamado circuito fechado —5 deles são atletas ou membros de equipes.

Já o Ano-Novo chinês, maior festival do calendário do país, teve início no último dia 1º e preocupa porque provoca viagens domésticas em massa. Antes do início da celebração, 260 milhões de pessoas já haviam se deslocado para encontrar familiares e amigos, e o regime prevê que, nas próximas semanas, 1,2 bilhão de viagens sejam realizadas, aumento de 36% em relação a 2021.​

Em meados de janeiro, 20 milhões de pessoas chegaram a estar confinadas na China, quando três cidades —Xi'an, Anyang e Yuzhou— estavam sob lockdown. Xi'an, a primeira das três a entrar no regime rígido de confinamento, foi bloqueada em 22 de dezembro e reabriu pouco mais de um mês depois, no último dia 24.

Segundo Pang Jun, vice-diretor da comissão regional de saúde de Baise, dois dos casos identificados na cidade são da variante ômicron que, assim como em outros países, levou à alta de casos na China. Ele não informou, porém, qual a cepa responsável pelas demais infecções registradas localmente.

O confinamento despertou ainda preocupação com os efeitos econômicos. Um guia turístico de Guangxi, onde Baise está localizada, disse à agência Reuters que sua renda é basicamente zero. Com a impossibilidade de aceitar novos grupos de viagem, ele teme como serão os próximos meses, sujeitos a novos lockdowns e surtos da doença.

É também na região de Guangxi, na fronteira sino-vietnamita, que pode ser observada outra estratégia chinesa na contenção da crise sanitária: a construção de uma barreira, com uso de arame farpado e forte policiamento, para reduzir —ou, em alguns casos, impedir– a entrada de cidadãos estrangeiros.

Pelo menos 456 quilômetros já foram erguidos, em especial na fronteira com o Vietnã e na fronteira sul, com Mianmar, de acordo com reportagem do jornal americano The Wall Street Journal.

O objetivo declarado da "grande muralha da imunidade", como vem sendo chamada, é combater a disseminação da Covid, limitando a entrada de comerciantes, trabalhadores e contrabandistas. O Ministério das Relações Exteriores chinês argumenta que a proteção das fronteiras é uma prática internacional amplamente aceita e que tem ajudado a prevenir a transmissão transfronteiriça do coronavírus.​

A parte continental da China relatou, ao todo, 45 casos de transmissão local de Covid neste domingo, acima dos 13 de sábado. Não foram registradas novas mortes, e o número oficial de óbitos permanece inalterado em 4.636.

Situação diferente é observada em Hong Kong, território autônomo que viu crescer a influência do regime chinês ao longo dos últimos três anos. A ex-colônia britânica registrou recorde de 614 novos casos diários de Covid nesta segunda, e as autoridades locais de saúde dizem esperar que as infecções cresçam exponencialmente nos próximos dias.

A situação preocupa devido à explosão de casos observada em janeiro. Mesmo com restrições, como o cancelamento de 90% dos voos com destino a Hong Kong, a cidade somou 2.000 infecções naquele mês. Em dezembro, foram apenas duas, segundo dados oficiais.

O epidemiologista Kwok Kin-on, professor da Universidade Chinesa de Hong Kong, disse ao jornal South China Morning Post que a contagem diária de novos casos pode chegar a 1.000 em breve. "Se uma pessoa pode infectar outras quatro, isso fará com que quase 1.000 sejam infectadas em poucos dias", afirmou. "É difícil prever os números de pico de infecção se as pessoas não reduzirem as atividades sociais."

As instalações de quarentena montadas pelo governo começam a ficar saturadas, e milhares de pessoas aguardam em longas filas nas ruas para fazer testes de Covid, obrigatórios para todos aqueles que estiveram em locais onde foram relatados casos da doença.

O aumento de infecções deve levar as autoridades locais a aprovarem um pacote maior de restrições sanitárias em reunião nesta terça (8). Já está previsto que, a partir de 24 de fevereiro, a região passará a adotar o passaporte vacinal, de modo que os residentes terão de apresentar comprovante de vacinação para entrar em locais públicos lotados. Com o novo cenário, o governo poderia estender a exigência do passe também em shoppings e no transporte público.

As autoridades projetam que medidas mais rígidas podem ajudar Hong Kong a ganhar tempo para aumentar as taxas de vacinação. O território autônomo tem 64% da população com primeiro esquema vacinal completo, e 6,3% dos habitantes já receberam a dose de reforço. Para a China continental, as taxas são, respectivamente, 85% e 23%, de acordo com a plataforma Our World in Data.

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