Por Aline Costa, g1 Presidente Prudente


Tamanduá-mirim é flagrado na área urbana de Presidente Prudente (SP) — Foto: José Renildo Lemos de Oliveira

Um tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) foi flagrado nesta quinta-feira (20) enquanto fazia uma "caminhada noturna" pela Rua Max Boudin, no Jardim Mediterrâneo, em Presidente Prudente (SP). Quem viu o animal foi José Renildo Lemos de Oliveira, de 46 anos, que trabalha como vigilante.

O vigilante noturno, que atua no ramo há 15 anos, estava trabalhando quando encontrou o tamanduá-mirim. Ao g1, ele contou que não é primeiro animal que vê pela área.

"Já vi outros animais silvestres várias vezes, tatu, cutia, lebre, raposa. Mas o tamanduá é a primeira vez que eu vejo", falou.

José Renildo também explicou que o local onde o tamanduá foi encontrado por ele fica próximo a uma mata ligada ao Balneário da Amizade.

"Eu fiquei surpreso e triste ao mesmo tempo, pois sabemos que os animais estão invadido a área urbana em busca alimento", ressaltou ao g1.

A aparição de animais silvestres também é bastante comum no Residencial Servantes 1, de acordo com José Renildo.

"Eu tenho um amigo que trabalha como vigilante lá e ele sempre vê muitas capivaras. Eu mesmo já fui até lá para observá-las também", disse.

Após o flagrante da "caminhada noturna", como descreveu o trabalhador, o vigilante conduziu o tamanduá-mirim para uma área verde, que é de onde ele acredita que o animal tenha saído.

"Eu estava de moto e muitas vezes tive que descer do veículo para orientar o animal a respeito da direção que ele deveria seguir. Como ele andava devagar, resolvi fazer umas fotos", concluiu o vigilante noturno ao g1.

'Mais comum nessa região'

O biólogo André Gonçalves Vieira falou ao g1 sobre a aparição do tamanduá-mirim na área urbana, no Jardim Mediterrâneo.

"O surgimento do tamanduá-mirim como o de outras espécies silvestres acaba sendo agora mais comum nessa região. Já observamos ali a onça-parda se locomovendo por essa região, ouriço-cacheiro, raposa-do-mato, entre outras espécies. O próprio tamanduá já foi observado nessa região", falou.

Conforme o especialista, isso ocorre porque existe o reflorestamento entorno do Balneário da Amizade por parte de empresas que trabalham com loteamentos e com isso também tem a vegetação nativa da região e as suas veias de corpos hídricos, de córregos, que pega desde a cabeceira que constitui o Jardim Cobral, Novo Bongiovani, Maré Mansa, Imperial.

Tamanduá-mirim é flagrado na área urbana de Presidente Prudente (SP) — Foto: José Renildo Lemos de Oliveira

"Esses corpos d'água tem muitas áreas de preservação permanente, com cobertura florestal nativa. Dentro dessas coberturas existem as árvores exóticas e as árvores nativas e com isso, consequentemente, você tem uma diversidade de animais que durante o dia você não observa e a noite elas começam a perambular, ir atrás do seu alimento", disse ao g1.

O biológo ainda explicou que o tamanduá-mirim tem o hábito de se alimentar de insetos, principalmente de cupins e formigas. E, provavelmente, esse animal deve ter se perdido saindo do fragmento florestal em busca de alimento e acabou entrando na área urbana, com casa e moradias.

"Um dos principais fatores é a procura de alimentos. O balneário pertence ao Córrego do Limoeiro, que encontra com o Córrego do Veado e que se encontram no Rio Santo Anastácio, então, consequentemente você tem um corredor natural desses animais para poderem se locomover. É comum, principalmente algumas espécies de hábito noturno, surgirem nessa região. Então, hoje cabe-se ainda mais uma tensão maior pelo poder público em preservar essa área do balneário e também reduzir ao máximo os impactos, sejam eles sonoros, intervenção com edificações, porque esses impactos acabam inibindo o animal, acabam criando um certo transtorno ao animal e muda a característica ambiental de onde ele vive. Ou seja, um dos motivos para o animal ir para a área urbana é a perda do seu habitat e a procura por alimento", pontuou o biólogo ao g1.

'Fortes garras'

O tamanduá-mirim tem distribuição em campos e florestas da Venezuela até o Sul do Brasil.

São insetívoros. Comem apenas formigas e cupins. Utilizam uma técnica bastante simples: valem-se de suas fortes garras (quatro ao todo) para fazer buracos no cupinzeiro e, com a língua pegajosa, capturar os insetos, guiados, sobretudo, por um olfato apuradíssimo, que compensa as fracas visão e audição.

O tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla), ao contrário de outras espécies, ainda é um mamífero preservado na fauna brasileira. Mas pesa contra a sua manutenção uma atividade cada vez mais frequente em seu habitat: a redução das florestas em função das queimadas, o que geralmente elimina a sua principal fonte de alimento: formigas, cupins e larvas.

O animal é também frequentemente ameaçado por outras ações do homem, direta ou indiretamente, como os atropelamentos em rodovias próximas ao seu ambiente natural, e pelo ataque de cães domésticos.

Tamanduá-mirim é flagrado na área urbana de Presidente Prudente (SP) — Foto: José Renildo Lemos de Oliveira

O grande problema é que, em função de seus baixos níveis metabólicos, o tamanduá-mirim tem longos períodos de gestação e um número reduzido de crias, daí a preocupação constante com o seu bem-estar.

Em função de seus hábitos noturnos, dificilmente é visto de dia. São indivíduos essencialmente solitários, que só encontram um par na época do acasalamento. Tanto que em uma área de 350 a 400 hectares podem-se encontrar dois animais da mesma espécie.

Como característica física principal, ele possui cabeça, pernas e parte anterior do dorso com uma coloração típica, amarelada. Já o restante do corpo é negro, formando uma espécie de colete.

O tamanduá-mirim pesa até cinco quilos e vive aproximadamente nove anos.

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