Rio Petrópolis

Tragédia em Petrópolis: amigo e mergulhador profissional integram força-tarefa de 50 pessoas em busca de jovem desaparecido

Gabriel da Rocha, de 17 anos, estava em um dos dois ônibus que foram arrastados pela enxurrada de terça-feira, dia 15
O mergulhador profissional Nangibe da Silva Santos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
O mergulhador profissional Nangibe da Silva Santos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

PETRÓPOLIS — A busca pelo jovem Gabriel da Rocha, de 17 anos, um dos passageiros de um dos dois ônibus que foram arrastados pela enxurrada da última terça-feira na Avenida Washington Luis, em uma das imagens mais marcantes da tragédia em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, ganhou reforço de amigos e moradores da cidade, que se sensibilizaram com a história do pai do jovem, Leandro da Rocha. Ele tem entrado há vários dias no Rio Piabanha com auxílio de uma corda para procurar o filho desaparecido.

No domingo, além de amigos, moradores da cidade se comoveram com a história do pai que nadava nas águas barrentas do rio em busca do filho e se prontificaram a colaborar nas buscas. Entre esses, está o mergulhador profissional Nangib dos Santos Silva. Vestido com seu equipamento tradicional de mergulho, ele entrou cedo no Rio Piabanha e percorreu quilômetros do leito, vasculhando carçacas de veículos que foram arrastadas pela enxurrada e o lixo acumulado nas margens.

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Com a ajuda da esposa e um casal de filhos, que andavam pelas margens orientando e jogando corda para auxiliar quando necessário, Nangib tem certerza de que o grupo terá sucesso nas buscas.

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— Eu sou mergulhador profissional. Estamos ajudando, é um trabalho difícil, tem muito lixo e detritos. Entrei desde cedo na água e vamos continuar. Vamos encontrá-lo — disse Nangib, cuja família está ajudando em várias frentes. No sábado, a esposa e a filha estavam entregando mantimentos na região onde houve deslizamento no Caxambu.

O mergulhador profissional Nangibe da Silva Santos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
O mergulhador profissional Nangibe da Silva Santos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Quem também está auxiliando nas buscas por Gabriel é o amigo Breno da Silva Raimundo, de 18 anos. Os dois são praticantes de jiu-jítsu e estavam sempre em contato para falar sobre novas técnicas. Ele reconheceu o amigo em vídeos da enchente que circularam pelas redes sociais na quarta-feira e foi até a casa de Gabriel. Ao saber que ele estava desaparecido, Breno se uniu à familia do amigo para as buscas.

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— Somos amigos do jiu-jítsu, é um moleque do bem. Gostávamos muito de trocar ideia sobre diversos assuntos. No que eu precisasse ele me ajudava e eu também o ajudava. Gosto muito dele, um moleque sem palavras — disse.

Apesar do tempo desaparecido, Breno ainda tem esperança de encontrar o amigo com vida. Ele usa como exemplo o caso do irmão dele, que reencontrou uma amiga que estava desaparecida após a casa ser destruída em um dos deslizamentos na cidade.

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— Estou andando aí pelas margens do rio olhando. Estamos numa segunda busca, olhando os lugares. Meu irmão reencontrou uma amiga que todos achavam que estava morta, então eu tenho esperança — comentou ele.

O mergulhador profissional Nangibe da Silva Santos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
O mergulhador profissional Nangibe da Silva Santos Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Parentes de amigos de Gabriel participam das buscas. Pai de um dos melhores amigos do jovem, Tony Faxola cavava a lama nas margens do Piabanha com uma ponteira e estava disposto a virar a madrugada no trabalho.

— Eu sou pai também. Meu filho é um dos melhores amigos dele, está arrasado em casa. Ele queria vir também, mas achei melhor poupá-lo, então vou ajudar por mim e por ele. Eu sequer imagino a dor de ver um filho nessa situação. Vou ficar aqui, se precisar a gente vira a noite. Te digo uma coisa: a gente vai achar o Gabriel. A gente vai achar — afirmou.