The Update by HSM Management – Ano VII – nº 37 – 31 de dezembro de 2023
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Começa o último dia de 2023 e chegamos ao derradeiro THE UPDATE do ano, um que é escrito nos 48 minutos do segundo tempo. Só que, como eu sou meio ruim de despedidas, vou trocar a habitual retrospectiva por uma prospectiva, que tem mais a ver com cenários projetados a partir de alguns acontecimentos deste finalzinho de ano e menos (ou nada) com bola de cristal. São hipóteses a ser consideradas! (Preparar-se para elas nunca é demais.)

Vamos nos concentrar em cinco temas: diversidade, equidade e inclusão (DEI); inteligência artificial (IA); vida digital; visão da economia; burocracia na gestão, Em uma tentativa mal ajambrada de sintetizar os cinco, trago aqui a boneca Funko Pop da Adriana que fiz no site Microsoft Designer,. É IA, é DEI (mulher e 50+), é vida digital (o bonequinho geek poderia ilustrar o verbete “efeito de rede” no dicionário) e  óculos são uma marca registrada dos estereótipos de economista e burocrata. Experimente fazer o seu Funko Pop, caso ainda não tenha tentado! Mas lembre-se, no prompt, de pedir para colocar seu nome na caixa. Se não ficará com um nome impronunciável como o meu: Gopfriegthn [risos].

HAVERÁ DIVERSIDADES E DIVERSIDADES (E NOVAS NARRATIVAS)

A edição 2023 do relatório Future of Jobs, do Fórum Econômico Mundial, trouxe um dado que preocupou. A maioria das empresas quer priorizar, em seus programas de DEI, mulheres (79% disseram isso),  jovens com menos de 25 anos (68%) e pessoas com deficiência (51%) . É uma minoria que pensa em priorizar públicos minorizados étnico-raciais (39%),  trabalhadores com mais de 55 anos (36%), quem se identifica como LGBTQI+ (35%) e aos que provêm de um contexto de baixa renda (33%).

Talvez sejam como escolhas de Sofia para as empresas. Mas, em 2024, temos de ficar vigilantes em relação ao que isso pode significar para o Brasil. Afinal, quem não é heteronormativo ainda tem muitas dificuldades aqui, somos uma sociedade que está envelhecendo, há imensa dívida étnico-racial e a distribuição de renda, então, nem se fala. Em 2023, já testemunhamos o cansaço com o tema da diversidade no meio corporativo, com muitos programas sofrendo cortes e retrocessos.

Uma possibilidade para contornar o problema é que uma nova narrativa se torne mais frequente, como já vemos acontecer nos Estados Unidos. Em vez de falar em fazer justiça social – embora seja verdade –, o discurso dominante passa a valorizar os casos de sucesso. Como vi ocorrer recentemente na MIT Sloan Management Review num artigo sobre a inovadora oftalmologista americana Patricia Bath (1942-2019), a pioneira das cirurgias de catarata a laser da foto acima. (Aliás, estudo da Fundação Oswaldo Cruz divulgado em meados de 2022 mostra que, no Brasil, a catarata é a quarta doença mais frequente, perdendo apenas para hipertensão arterial, problemas de coluna e colesterol alto, você sabia?)

O mesmo raciocínio emerge em relação aos profissionais veteranos neste artigo de Fran Winandy, sobre etarismo no esporte, que aborda como os atletas estão procurando novos caminhos profissionais. (Meu comentário: na final do Mundial de Clubes, em que o Fluminense foi goleado pelo Manchester City, você deve se lembrar de que, mídia britânica tratou o tricolor do Rio como um time de aposentados, não?)

A coluna de dezembro de Alexandre Waclawovsky já sugere o aumento de conflitos em 2024 – se não para todos os minorizados não prioritários, ao menos para os mais velhos. O título beira o divertido, mas é triste se a gente pensar bem: Existe um MMA de gerações no escritórios?.

A BOLHA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL TALVEZ ESTOURE

Cory Doctorow é um renomado autor de ficção-científica canadense, você talvez conheça seu livro Pequeno Irmão.e afiliado de pesquisa do MIT Media Lab. Há pouco ee escreveu um artigo com o sugestivo título “What Kind of Bubble is AI?”  no qual desmonta o hype ao redor da IA. Não é que ele chama de modismo, não. Mas ele compara a corrida frenética atual  à bolha ponto.com da virada do século; a internet também não era modismo, mas a bolha estourou.

Os roteiros são parecidos, de fato, no que diz respeito a fortunas criadas da noite para o dia (investidores despejando montanhas de dinheiro em modelos de IA incrivelmente caros de desenvolver). E, assim como havia fraudes nas ponto.com, há fraudes agora com a IA segundo ele.

Não sabemos se o final será igualmente parecido – muitas empresas falidas e milhares de desempregados. Mas há sinais de diferentes tipos de que nem tudo anda cor-de rosa, ao menos com a IA generativa: 

  • A OpenAI enfrenta um número crescente de ações judiciais relacionadas com violação de direitos autorais e propriedade intelectual. O The New York Times acaba de processar OpenAI e Microsoft. Jornalistas, editores de livros e outros stakeholders começarão a contar com ferramentas como ZeroGPT para descobrir se seu conteúdo foi usado sem pagamento de royalties. A maneira como desenvolvedores treinam seus algoritmos está sendo vigiada.
  • Mais líderes corporativos ganham consciência de que o fenômeno da caixa preta (o fato de que o algoritmo executa uma ação ou fornece uma resposta de uma forma enigmática, que não pode ser explicada pela sua programação) representa riscos variados, inclusive à reputação.
  • As repercussões das alucinações (quando o algoritmo fornece uma resposta imprecisa ou totalmente inventada) estão piorando, porque deixam de ser compartilhadas como piadas. Por exemplo, uma empresa teve de lidar com a ira do editor-chefe do The Hill depois de publicar ali um artigo produzido por IA repleto de erros, destacando a importância de equilibrar a capacidade de produzir conteúdo mais rapidamente com a qualidade real entregue. E houve vários relatos de que o ChatGPT fabrica os materiais de origem que às vezes usa para construir um argumento. (Chegou a citar professor de direito dos EUA que existe como acusado de assediar sexualmente um estudante com base em um artigo do Washington Post que nunca existiu.)
  • Aparentemente começa a pegar mal produzir muitos conteúdos com IA, podendo ser associado a preguiça, repertório limitado, incapacidade técnica. Já que ferramentas como o ZeroGPT permitem que os usuários verifiquem a originalidade e a legitimidade de qualquer conteúdo em questão de segundos, ficou mais fácil o patrulhamento.
  • Começa a discussão de que a IA generativa pode poupar tempo no curto prazo, mas o valor que proporciona às empresas deverá proporcionar retornos cada vez mais reduzidos.
  • Robôs humanóides não devem ajudar na aceitação da tecnologia. O CEO da Agility Robotics, Damion Shelton, disse à Axios em uma entrevista que foi classificada como “perturbadora” que a empresa se programou para fabricar 10 mil robôs em suas instalações “RoboFab” assim que atingirem seu ápice – logo, logo. Para quem não viu o filme AI do Spielberg, esta é uma boa hora para ver. (A piada a pronta é que a empresa é sediada na cidade americana de Salem. Assim como houve as bruxas de Salem, haverá os robôs de Salem?)

Tudo isso somado – a bolha apontada por Doctorow e outros sinais – talvez nos façam concordr com um artigo publicado na Inc. que sugere mais cautela no uso da IA  em 2024. Embora não seja para deixar de usá-la, uma vez que os benefícios são evidentes. Mas os riscos têm ficado mais visíveis.

A INTERNET ÚTIL GANHARÁ ESPAÇO SOBRE AS REDES SOCIAIS

O Business Insider não tem dúvidas: as mídias sociais (como as conhecemos hoje) estão mortas. Enterrá-las seria questão de tempo, então? Bem, o portal publicou reportagem com essa afirmação em agosto, mas repetiu agora no final de dezembro na seleção de principais assuntos do ano. Segundo eles, os substitutos são os bate-papos em grupo, em apps de mensagens instantâneas por exemplo, que oferecem às pessoas um lugar mais seguro para compartilhar memes, fofocar com amigos e até mesmo conhecer novas pessoas. A razão? “Há menos pressão nesses ambientes.” Os representantes das gerações mais jovens estão no pelotão da frente dos que fazem essa escolha. A ver o que acontecerá em 2024.

As polêmicas com Elon Musk e o X/Twitter em 2023 teriam colaborado para acelerar essa decadência? Talvez. No Brasil, dois suicídios (de PC Siqueira e Jéssica Vitória Canedo) também foram relacionados indiretamente com cancelamento nas redes e podem ter suscitado reflexões adicionais nos usuários.

Mas não é só o público que pode ficar mais arredio; os anunciantes também. No caso de Canedo, que envolveu uma perfil/página (Choquei), seus anunciantes foram cobrados. 

Na contramão, os sites e apps úteis podem estar ganhando mais destaque novamente. Uma lista publicada no final de 2022 no então Twitter por G.S. Bhogal voltou a ser revisitada (veja o tweet original). Entre os exemplos de recomendações está o Dictation.io (dá para usar em português!).

UMA NOVA ABORDAGEM DE ECONOMIA GANHARÁ ESPAÇO

Dia desses, uma executiva sênior comentou comigo como aprecia as análises econômicas feitas pelo Gil do Vigor. Ele é economista de fato, mas também foi um competidor do reality show Big Brother Brasil, o que mostra um perfil diferente de economista. Eu fiquei me questionando: será que está mudando o padrão de economista que deixamos nos influenciar?

Essa pergunta é o que torna especialmente importante registrar aqui o sucesso da economista americana Emily Oster, 43 anos e muito ativa nas redes sociais, entre a classe média alta daquele país. Seu livro "The Family Firm"  de 2021 teve uma lotação tal na livraria em seu lançamento que o evento teve de ser transferido para uma igreja próxima. Oster inspira uma espécie de devoção nas pessoas. 

O estilo pop de Oster é o que a caracteriza: ela usa seu treinamento em economia para estudos sobre qualquer coisa, de circuncisão a tempo de tela, e traduz isso em linguagem acessível. Ela também não foge das polêmicas – ao contrário, as nutre. Então, economista influencer é uma tendência a que talvez devamos prestar atenção em 2024. Não com pré-julgamentos, mas com intenção de entender melhor.

A BUROCRACIA VAI REVIDAR OS ATAQUES QUE VEM SOFRENDO

Pedro Cutrecasa, um grande pesquisador do setor farmacêutico, ex-head de pesquisa e desenvolvimento da Warner-Lambert Pfizer, disse: "Liberdade, espontaneidade, flexibilidade, agilidade, tolerância, compaixão, humor, diversidade, essas coisas foram substituídas em nossa organização por estruturas volumosas e flexíveis caracterizadas por arregimentação, controle, compliance, e burocracia excessiva."

Assustador que esse movimento esteja acontecendo agora. Me parece uma reação a todas as tentativas de debelar a burocracia, como o New Human Movement, materializado nesse podcast conduzido por Gary Hamel e com patrocínio da fabricante de eletrodomésticos chinesa Haier, que é muito antiburocrática. O número de inscritos do programa ainda é baixo, o que significa que a burocracia talvez leve vantagem neste momento.

Seja como for, vale a pena acompanhar (em inglês) a entrevista de Hamel com Bill Anderson, CEO da Roche, em que este conta da cruzada antiburocracia que vem conduzindo em sua empresa. Entre outras coisas, a cruzada inclui fazer com que os funcionários exerçam funções end-to-end, do início ao fim, em vez de serem especializados em apenas algumas tarefas, alguns pedaços dos processos. Resistências? Há. Muitas. A conversa está aqui.

Agora, responda para si mesmo: a burocracia já não começou a revidar também no Brasil? E como você acha que será em 2024?

Na era do talento, em que a competição por profissionais é cada vez mais acirrada, os benefícios de saúde e bem-estar emergem não apenas como um diferencial, mas como um pilar estratégico para as áreas organizações.

A Pipo Saúde está na vanguarda da discussão sobre o futuro dos benefícios corporativos e quer ouvir a sua voz também. O objetivo é mapear as tendências emergentes. 📊

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Estarei de férias até meados de janeiro; esta newsletter voltará a sair no dia 21/01. Ah! Retornaremos à circulação dominical, que é a preferida da maioria. Muito obrigada pela companhia ao longo de 2023 inteiro, foi uma alegria e uma honra. Uma ótima passagem de ano e os melhores votos de todos nós para o seu 2024!

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Enviado por Revista HSM

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